quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

O comentário de Carla

Conhecimento "majoritariamente a priori"??? O que você quis dizer com isso?
Bem, seja lá o que for, não parece se aplicar ao aforisma em questão. Quanto a "treinar o sentir", não vejo porque seja algo impossível, pelo contrário: a civilização humana é um projeto visando domar a animalidade humana. A "generalização" de Nietzsche é concisa e coerente: na medida que se torna mais "científico" o homem adquire recursos intelectuais para afastar o tédio e a excessiva sensibilidade emocional. Pode-se pensar que há uma correspondência entre intelecto e a inteligência emocional do indivíduo. A "formação superior" permite ao indivíduo preencher lacunas de seu pensamento e isso por si só, é um modo de afastar o tédio. Aliás, como era um psicólogo sofisticadíssimo, Nietzsche deve ter intuido a relação entre o tédio - proveniente da baixa da capacidade intelectual - e a excessiva sensibilidade emocional. Tédio é uma espécie de depressão. A excessiva sensibilidade emocional é alimentada pelo tédio. Quando penso em tédio me vem a cabeça a imagem daquele pedante, metido a intelectual, que acha que sabe muito e portanto se enfastia com o mundo limitado e inferior que vê ao seu redor. Esse indivíduo refugia-se na sensibilidade em nome de seu medo de se arriscar a aprender algo novo, ou a pensar em outra perspectiva. Além disso, ainda crê que está defendendo a última fronteira da autenticidade: a emoção. Comenta-se muito sobre o rompimento de Nietzsche com o romantismo que tinha justamente essa idéia: oh, não posso mais suportar tanta emoção! meu coração é verdadeiro e superior ao pensamento! Nietzsche, creio, deve ter mandando os representantes dessa idéia para o inferno.
O teu comentário, Carla, teria destino parecido, se me permite a brincadeira, pois parte de uma distinção entre pensar e sentir com a qual Nietzsche talvez não concordasse. E como há uma ligação direta entre pensar e sentir - eles são o mesmo - um pode influenciar o outro perfeitamente. Portanto, um pensamento aguçado leva a um sentir aguçado e vice-versa. Aqueles que acham que sentem coisas muito intensas - tédio, por exemplo - e que acham-nas superiores ao pensamento, na verdade sofrem de fraqueza mental e, por consequencia, emocional.
Mas, concordar que um indivíduo ideal, como Nietzsche apregoa, suporta todas as adversidades da existência, o tempo todo, é realmente difícil. Essa generalização, porém, não se pode dizer que ele tenha cometido. Ele apenas alega que, estando com a mente a todo vapor - não em velocidade, mas em qualidade de intelecção - o indivíduo obtem recursos que naturalmente vão do racional ao emocional, já que não há interrupções entre eles.
Isso basta?

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